Eu, lésbica...
Relatos honestos de uma mulher lésbica sobre suas vivências e experiências que possam, de certa forma, ajudar, inspirar e trazer conforto para outras por aí que não se sentem pertencentes
quarta-feira, 2 de julho de 2025
Insight lésbico sobre poesia
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
E se eu falasse de sexo, isso seria um problema?
Ouvir aquele episódio do podcast sabendo que tinham 3 mulheres comentando de forma natural sobre esse assunto, dando dicas e compartilhando experiências foi algo realmente interessante.
Por um tempinho considerei não trazer nada com a temática sexual por aqui porque achei não ser importante, mas, ao mesmo tempo me sinto mal por imaginar o sexo como um grande tabu. Me deixa confusa pensar que se você transa no intuito de ter filhos isso é muito bom porque uma benção está vindo porém se você transar pelo prazer da coisa acaba sendo considerado errado por algum motivo e como uma mulher abertamente lésbica, não pude deixar de escrever sobre mesmo que seja apenas pra guardar como algo nunca postado.
Tenho 23 anos e nunca passei dos beijos quando se trata de estar com mulheres, nem mesmo quando namorei, acho que mal beijávamos pois minha namorada da época não curtia beijar de língua. Não saio muito em encontros ou flerto com frequência, apenas acontece d'eu me apaixonar por pessoas e me desapaixonar porque geralmente não era pra ser. Mas então, se não tenho uma vida amorosa ativa, por que falar sobre sexo? Justamente porque tive algumas experiências com homens antes de me assumir e acho importante contar isso pra desmistificar um pouco as coisas e diminuir esse tabu absurdo sobre transar. Não entra na minha cabeça como para os homens é muito positivo histórias de transas, como eles tem muita naturalidade. São incentivados a falar tanto sobre o que fazem, com quem fazem, até com quantas pessoas fizeram num mesmo dia enquanto mulheres não podem nem falar sobre auto descobertas que fazem a respeito do próprio corpo porque automaticamente querem "chamar atenção do público masculino" ou são chamadas de nomes pelo simples fato de serem confiantes sobre suas vidas sexuais.
Antes de ter minha primeira experiência íntima eu pensava ser assexual porque tinha problemas em me enxergar com alguém nesse sentido, especialmente homens, e porque eu não tinha conhecimento suficiente pra saber que assexualidade não é sobre sexo. Tinham também problemas de autoestima que me afetavam ao me fazer acreditar numa falta de sensualidade vinda de mim, e que provavelmente para eu poder experimentar como os outros eu teria que ceder a alguma "provocação" vinda de algum homem. Foi com esse pensamento que passei meu penúltimo ano do ensino médio flertando com um amigo, mais ou menos uns 6 meses, deixando ele fazer o que quisesse comigo menos me beijar porque na minha cabeça beijo seria muito mais sério que pegação, e nossa rotina era essa. Ir pra escola, interagir com nosso grupo de amigos, dar umas escapadinhas no intervalo pra ficar escondidos no porão cheio de entulho da escola, e depois, na hora de ir embora ficar mais tempo com ele, todos os dias quase eram assim até isso passar a ser bom e me deixar sempre vários dias triste por sentir que no fundo eu estava machucando alguém. Ficamos nesse ciclo de pegação → culpa → dizer que não aconteceria novamente e aí começar tudo de novo.
Quando começamos a ficar eu não imaginava como ia me afetar psicologicamente, começou como uma conversa besta meio cheia de piadinhas, estávamos falando de uma colega de sala que era muito bonita e meu amigo gostava dela porém não achava ter muitas chances então eu disse que também ficaria com ela caso rolasse um clima e a partir disso passamos a falar sobre o que gostaríamos de fazer e o papo foi escalonando pra ele me perguntando, de forma bem direta, e eu respondendo da mesma forma pois tínhamos muita intimidade e nesse ponto eu não ficava preocupada. Nós dois compartilhávamos do mesmo princípio de nunca falar dessas conversas e ficadas com outras pessoas para não virarmos alvo de fofocas da turma e para que isso não afetasse nosso rendimento escolar e o trabalho dele como ajudante/faz de tudo na escola, era uma relação séria porque a gente realmente manteve o compromisso de ser algo só nosso, isso até as coisas mudarem entre nós.
A atração que ele tinha pela nossa colega foi passando com o tempo e agora ele depositava tudo sobre mim, me dizia coisas que eu queria escutar e do jeito que eu queria escutar. Eu mostrava tudo que me deixava excitada e na sequência ele dava um jeito de procurar como fazer e vinha todo sorridente pra cima de mim dizendo que também gostava daquelas coisas, a gente realmente flertava de forma descarada e esse não era o problema, gosto de flertar, gostava de flertar com ele porque me deixava entretida e não machucava (pelo menos não ME machucava). É importante eu mencionar que quando os sentimentos passaram a ser todos sobre mim ele me disse exatamente como se sentia e eu, em pé de igualdade, disse exatamente como estava me sentido e como nós só seriamos AMIGOS. Esse menino não foi o primeiro a sentir atração por mim, e tudo bem, mas foi o primeiro a me culpabilizar por ser bissexual (na época eu dizia que era bi) e por supostamente enganar ele como se meu lance fosse brincar com os sentimentos dele.
Durante esses anos todos de escola, do 8º até o 3ºão, desenvolvi um vício muito grande em pornografia.
Essa é a primeira vez que toco nesse assunto de forma tão aberta, tão sincera e honesta, sem rodeios ou analogias pra esconder os fatos. Meus problemas com sexualidade e autoestima me levaram a consumir doses cavalares de pornografia, diversos conteúdos de meninas que estavam sofrendo na mão de uma indústria terrível a fim de agradar os homens, do mesmo jeito que eu estava fazendo, porque foi assim que aprendi como as coisas deviam ser. O que seria eu senão um corpo disponível para que outros pudessem usar? Esse era o tipo de pensamento que tomava minha mente me fazendo absorver os traços e trejeitos das meninas dos filmes adultos.
Os meninos não tinham medo de contar aos outros sobre a forma como "pagavam tributos" as mulheres e eu cogitava a possibilidade de me tornar uma delas a fim de ser aceita, desejada, de ser alguém muito diferente de mim mesma. Enquanto minha cabeça devia focar nos estudos para um possível futuro bom, minha preocupação era em como ninguém nunca iria pensar em mim como mulher e sim como menina, e isso era meu maior medo.
Depois de formada na escola e com 18 anos completos eu comecei a ter mais liberdade pra sair e fazer minhas coisas então, ainda com a cabeça lotada de vislumbres dos filmes adultos, e comentários pretenciosos, eu saia de casa pra ficar com homens duvidosos só pra poder ser considerada mulher de verdade. Nas primeiras vezes eu ficava com os caras, rolava um sexo, mas eu nunca saia feliz ou satisfeita e tudo bem porque nem sempre as coisas são perfeitas. Uma hora ia ser gostoso, todo mundo diz ser tão bom, comigo também vai ser. Spoiler... Não foi.
Eu saía triste depois do sexo, com um sentimento de sujeira muito forte em mim a ponto de chegar em casa desesperada por um banho pra tentar tirar qualquer resquício da outra pessoa de mim, e fingia que nada disso importava ou machucava até doer na pele. Literalmente. Até chegar um dia onde, depois de muito flertar pela internet com um garoto, nós marcamos um encontro e eu apanhei.
Preciso confessar que nunca fui muito o tipo de menina "certinha" que gosta do sexo baunilha, sempre me interessei pelo diferente e queria em algum ponto poder experimentar algo assim.
Estou com um garoto, ele me diz coisas, tento me sentir excitada ou ao menos lisonjeada com os comentários e quando menos espero acabo recebendo um tapa no rosto. Paro em completo choque. Ele me chama de nomes e depois desfere mais um tapa enquanto continua falando comigo, falando comigo, especialmente comigo, somente comigo, e a cada palavra que saía da boca dele as lágrimas eram mais fortes e tal qual meu choro.
Eu chorava encolhida na cama enquanto o escutava dizer que achava fofo esse meu jeito assustado antes de encostar novamente em mim, chorava sentindo a presença dele ali, e depois chorava encolhida no chão debaixo de uma mesa enquanto o ouvia pedir desculpas.
Como eu fui de beijar uma menina no banheiro da escola e me sentir flutuando nas nuvens pra estar com medo de ser tocada por um garoto? Como isso aconteceu? Porque eu deixei isso acontecer? Porque o sexo não pode ser um assunto leve e sem tabus?
Para minha sorte, felicidade, ou seja lá o que for, essas experiências todas já passaram e desde então eu nunca mais me deixei sofrer assim. E aí... Volto lá para o começo do texto, onde digo estar ouvindo atrizes falando sobre sexo num podcast disponível para muitas pessoas e sorrio enquanto escrevo exatamente sobre a mesma coisa no meu blog singelo. Olho pra trás e enxergo que a caminhada foi difícil, mas que hoje em dia as coisas são muito diferentes.
Mas, não me entendam mal, não escrevo aqui porque quero que sintam pena ou mal por mim, de uma forma muito maluca sei que essas coisas todas me tornaram mais forte (mesmo eu achando desnecessário sofrer tanto assim só por isso).
O sexo não é um problema, nunca foi. O problema eram outras mil coisas que mexeram com a minha cabeça, coisas essas que me deixavam a mercê de uma realidade ruim e que não pretendo mais deixar me controlar.
Ah, e claro, o vício com pornografia foi uma coisa consumida religiosamente, ficou muito fixo no meu subconsciente, e fica até os dias de hoje. Eu não sou 100% livre dessas memórias, mas estou caminhando pra isso, de um jeito mais tranquilo e com mais cuidado para comigo mesma num todo.
Nem todos os dias são perfeitos, mas é assim que faço, vou vivendo um dia de cada vez pra poder me curar completamente.
domingo, 12 de janeiro de 2025
Eu quero o que elas tem, é pedir demais?
Todo mundo gosta de assistir séries, não dá pra negar que elas são um passatempo muito bom na nossa vida, mas o que acontece se você começar a desejar que sua vida seja parecida com o roteiro de determinada obra? O que acontece se você passa a se identificar um pouco demais com determinado personagem?
Enquanto passeava pela rede social do passarinho me deparei com um post sobre a serie Agatha All Alonga da Disney+ e a publicação falava exatamente sobre como mulheres que amam mulheres sentem tanta necessidade da domesticidade em seus relacionamentos. Por muito tempo aquilo ficou na minha cabeça e vim pensando durante dias/semanas sobre o porque dessa carência existir, porque de sermos sempre tão necessitada de momentos assim, e a resposta que prontamente apareceu na minha cabeça foi sobre criar memórias.
Desde que me entendo por gente sou rodeada na minha família de pessoas que gostam de cozinhar ou que tem lindas memórias na cozinha com entes queridos, eu inclusa, e percebo como essas memórias gastronômicas são importantes para nós seres humanos em meio as nossas relações com outras pessoas, é importante para nós podermos guardar o máximo de histórias possíveis, mas afinal, o que tudo isso tem haver com carência sáfica?
É simples. Nós, mulheres que amamos mulheres, crescemos em famílias heteronormativas e estamos acostumadas a ver casais fazendo tudo juntos, como as compras do mercado, divisão de tarefas domésticas, cuidar dos filhos/pets e outras coisas mais. É tudo feito com muita naturalidade pois somos ensinados de que isso é o certo, somos moldados a acreditar que existe só um único tipo de combinação possível e aí somos pegos pelos enredos de séries onde tem a função de fugirem da realidade - dependendo do enredo, e nos fazem sonhar com novas possibilidades.
Você está lendo esse texto no dia 12/01/2025, mas, esse texto foi escrito no dia 26/12/2024 e atualmente estou assistindo a série Station 19, o spin off de greys anatomy. Confesso que só senti vontade de ver essa série devido ao casal Maya e Carina que mostra a rotina da estação de bombeiros e o hospital grey sloan, senti vontade de assistir porque depois de muitos vídeos do tiktok pude descobrir que elas se casam e constituem família.
Talvez eu não tenha assistido filme ou séries o suficiente entretanto essa me parece a primeira vez que vejo um casal de mulheres adultas com final feliz em alguma produção cinematográfica. A história delas permeando o anseio de Maya em se casar vs o sonho de Carina em se tornar mãe foi algo que me deu mais vontade de assistir, de ver o quão palpável seria a tão sonhada realidade que almejo num futuro próximo/distante. É do meu interesse, é da minha importância, ver representações do que um dia serão a minha vida, especialmente quando se vê um casal entre mulheres com diversos amigos sempre felizes e torcendo por cada conquista delas.
Cresci em um lar diferenciado, com uma mãe solo, e a referência de domesticidade que conheço são os meus avós, por sempre vê-la cozinhando para nós, por sempre acompanhá-los ao supermercado onde faziam suas compras. Eles tinham um relacionamento complicado que não cabe trazer aqui, mas eram o exemplo que eu tinha para moldar minha personalidade, e hoje com amplo acesso a internet posso me conectar com pessoas que querem o mesmo que eu.
Crescer no meu âmbito familiar, apesar das diferenças, me fez pensar que um dia eu gostaria de ter o mesmo que os outros tem, quero poder ser a minha própria versão de Maya e Carina, assim como tantos outros casais de séries existentes. É perfeitamente comum se enxergar em um personagem fictício e imaginar sendo você no lugar dele, deveria ainda mais ser comum, casais de mulheres bem representados nas mídias, poder sentir que sua vida tem um futuro promissor, que ela não é como uma temporada de série que pode ser cancelada a qualquer momento.
A carência por domesticidade também se dá ao fato de que é muito mais comum termos o estigma de que mulheres precisam encontrar seu homem ideal e só assim serão verdadeiramente felizes, o que me leva a questionar sobre por que não ter a mesma incisividade com casais de homens que ficam com homens. Não os vejo sendo questionados sobre esses assuntos, e não os vejo sendo sempre boicotados pelas grandes plataformas de streaming.
Mulheres desde o nascimento são induzidas numa realidade doméstica onde o maior foco é servir ao lar e muitas vezes aos homens, contudo, por que não podemos fazer diferente e mostrar mais casais homoafetivos que vivem em perfeita harmonia entre trabalho x vida do lar?
Sei que a vida nem de longe se parece com a ficção, mas nada nos impede de mudar o que está ao nosso alcance e tornar tudo um pouco mais tranquilo e gostoso. Por isso, me sinto esperançosa por mais temporadas das minhas séries favoritas tal qual por um futuro de muito amor e carinho ao lado da minha futura esposa.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Renuncia
Não é de hoje que a igreja, em especial a cristã/evangélica, costuma usar da fragilidade dos outros para que consigam fazer um verdadeiro terrorismo religioso a fim de que mais e mais pessoas se tornem seguidoras de Deus. Cristo esse, que se estivesse vivo hoje em dia, estaria profundamente entristecido com seus fiéis que tanto dizem pregar sua palavra quando na verdade leem muito por cima e interpretam a maneira que lhes convém.
O intuito desse texto não é ser muito religioso mas também não posso deixar passar o assunto pois tem me assuatado ver pessoas jovens, comprometidas, que tinham um brilho no rosto mudarem de repente por medo do que a sociedade religiosa pode pensar. O Brasil é entitulado um estado laico porém majoritariamente cristã (87%) com de sua maioria católica-romana (64,4%), é comum escutarmos o termo "evangelistão" por aí para se referir ao país tendo em vista que evangélicos costumam ter muito poder por aqui, como na própria bancada evangélica por exemplo.
Gostaria muito de poder escrever um texto dizendo que as pessoas tem sua própria voz para decidirem sobre si porém sei que não é assim e que pra mim, durante muito tempo não foi assim.
Caso você seja novo ou não se lembre, religião é um tema muito presente na minha vida especialmente por ter crescido na igreja a vida toda. Felizmente posso dizer que cresci numa comunidade cristã que nunca foi muito de pressionar a nós membros, a doutrinação existia e existe com alguns assuntos específicos como por exemplo o halloween, pessoas diferentes (nos quesitos físicos/mentais/sociais), outras religiões principalmente de matriz africana e o constante pensamento de que só nós cristãos somos os certos e que os outros estão no limbo entre errados e do demônio, porque sim, no vocabulário evangélico só existe a palavra demônio e derivados pra definir tudo que não é aceito dentro da igreja.
Já disse aqui ou em outras redes sociais minha que por muito tempo tive medo de me assumir como lésbica porém tive uma dose de coragem e expus na internet sobre não ser uma pessoa heteronormativa. Já tive medo da represália que sofreria por aí mas a minha saúde mental e felicidade valem muito mais, logicamente sei que vou viver a vida batalhando por um futuro de amor e respeito ao lado da minha futura esposa e não me importarei de fazer até que não precise mais.
Se mesmo sendo assumida posso ir a igreja, é puramente porque vou com o intuito de firmar minha relação com Deus e manter contato com alguns colegas.
Ao mesmo tempo sou 100% ciente de que a igreja e religião é um ambiente hostil e de traumas para muitos. Seus métodos são apelativos e doloridos, pois deixam marcas permanentes, machucam e afastam pessoas umas das outras.
Pessoas existem, religiões existem, divindades existem, e sei que no meio de tudo isso existe o amor, e que ele é muito maior que tudo isso. Amor e respeito são a chave para toda e qualquer coisa.
Tempos sombrios existem desde que o mundo é mundo e sempre tem um jeitinho de ser feliz sendo você mesmo, afinal, porque iríamos para o inferno se Deus nos fez exatamente como somos, baseados a sua semelhança e regados do seu amor?
Talvez o texto tenha saído um pouquinho mais religioso do que eu gostaria, mas espero que fique uma reflexão bacana para todos que lerem.
Deus é bom, mas lesbocentrar é melhor ainda!!
Insight lésbico sobre poesia
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