É domingo, 29/06/2025 e fazem alguns meses que eu só não postei nada porque estava ocupada vivendo fora das telas por um tempo até ter mais histórias a contar, quase como se eu precisasse me inspirar na vida cotidiana antes de voltar a escrever.
Hoje fui em um sarau literário organizado pela Devir Prosa e Poesia numa livraria na Av. Paulista aqui em São Paulo e durante o bate papo da tarde surgiu a seguinte pergunta "[...] porque os nome dos livros de vocês são o que são" algo assim, e de repente a Erica Alves diz que geralmente as coisas como títulos vem de um insight, uma vibe meio epifania do banho e só *puf* surge na cabeça. Em seguida vem Vinicius Queiroz contando que é um grande emocionado, apaixonado, falando um pouquinho sobre os livros dele, e, foi naquele estado de contemplação que me peguei tendo um insight sobre as minhas poesias de amor.
Escrevo desde os meus 13 anos, muitas fanfics, alguns contos, poesias e textos picados, que até então, em sua maioria, são coisas que ficam guardadas nas gavetas ou expostas só pra mim por motivos de timidez ao me expor dessa maneira intimista com as palavras mas que aos pouquinho tem vazado nas redes e nos pequenos espaços.
Me considero muito romântica daquelas que sonham acordado de chegar a suspirar pensando em romances clichês, filmes Disney, beijos adolescentes e histórias de casais que se apaixonaram em cruzamentos de trânsito. Sou boa com palavras, medíocre com ações, talvez péssima com demonstrações de afeto que exijam toque físico, mas vamos focar por hora nas palavras e somente nelas.
Escrevo poesias de amor feliz e amor triste há muito tempo na esperança de um dia vivenciar algo igual. No decorrer dos anos fui percebendo que quando costumava escrever sobre mulheres, seus pares, amores e desamores, sempre me inseria no texto como a figura masculina.
Não sou um homem. Não me pareço um homem. Não penso muito menos sinto como um homem, mas então por que essa necessidade de me inserir nas histórias dessa forma?
Repressão. Medo. Culpa. Vontade de ser tão apaixonante gramaticalmente e um dia, talvez, quem sabe, poder ler que alguém foi escrita por personalidades como Nicholas Sparks ou algum autor com propriedade sobre o amor e que descreva mulheres com tanta paixão que esse livro vire debates nos clubes de literatura por aí, que suas esposas e namoradas marquem seus amados e desejem ser igualmente tratadas como as mulheres descritas nos livros. Sinto vontade de ser tão apaixonante gramaticalmente que eu deixe de lado a pessoa que sou para me tornar um qualquer. Um aproveitador de meia tigela ou talvez um bêbado que declame versinhos com bafo de pinga.
Um dia escrevi sobre mulheres como se eu fosse um homem porque queria ser aceita para os outros, porque queria que as pessoas lessem meus escritos e gostassem, queria dar a entender que escrevo sobre a vida dos outros quando não me havia coragem de admitir ser tudo sobre mim, porque tudo é sempre sobre mim.
Escrevo desde os meus 13 anos, venho sempre mudando, pensando, matutando e repensando, continuo escrevendo com 23 anos porque nunca vai ser suficiente e não importa o quanto eu tente, sempre haverão espaços a serem ocupados.
Hoje em dia não quero parecer um cavalheiro romântico que compara mulheres a flores, quero ser eu, uma mulher amante de mulheres, daquelas que vê a beleza feminina e se acaba se embebedando de tudo que o feminino pode oferecer.
Escrevo porque falo melhor através das palavras, porque minha escrita toca em lugares que minhas mãos não conseguem tocar, escrevo porque está na minha natureza de artista assim como ser lésbica está na minha natureza humana e anseio um dia poder viver um conto de fadas tão clichê quanto todos esses já existentes por aí.
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