Na postagem anterior eu tinha dito pra vocês sobre as nuances de perceber os primeiros sinais do namoro na adolescência, e de como era comum pra mim escolher todos os meninos a dedo, mas hoje o papo é sobre beijar na boca... É. O tão famoso "primeiro beijo". Já adianto que Kent vai aparecer com frequência por aqui também.
Na época eu achava que minhas amigas me consideravam o mesmo tanto que eu as considerava, por isso, achava importante estar presente nesses acontecimentos femininos da vida delas pra criar memórias, tipo, somos amigas e é isso que amigas fazem. Né? É... Não... Pelo menos não comigo. Kent estava namorando um garoto muito pela saco e isso fazia ela ser muito pela saco igual, já não queria mais andar comigo, e acabava sendo grossa quando estávamos juntas porque aparentemente um pivete aleatória era mais importante que nossa amizade. Aquilo estava me deixando super chateada porque estar sendo deixada de lado por outra pessoa já parecia ruim, agora imagine ser trocada por UM MENINO, isso era o fim do mundo. Num dia aleatório ela me diz que ficou sozinha com esse bofinho e que eles deram um beijo. Meu queixo cai, Minha primeira reação foi perguntar porque ela tinha deixado isso acontecer, aliás, teve um "ECA" e depois "por que você deixou isso acontecer", importante contar de forma correta.
Fazer um pequeno parênteses aqui, esse menino era de fato muito babaca porque no ano seguinte, quando eu estava na 7º série ele só sabia me destratar de forma verbal e física.
Eu nunca quis saber se ela tinha achado bom ou se de fato era bom, não fui atrás de outras pessoas pra perguntar, e nem tive essa dúvida exposta pra minha mãe. Essa memória morreu comigo tal qual nossa amizade. Não fazia mais sentido eu engajar uma relação que já demonstrava não me querer por perto fazia tempo, e aí, bola pra frente, não podia ser tão ruim perder uma amiga se ainda tinha a outra. Eu só não sabia que elas eram uma dupla muito forte e eu um parasita. Então provavelmente doeu muito mais em mim do que nelas.
Só pra dar contexto: Clark, Kent e Eu, estudamos juntas desde o maternal até o 6º ano. Erámos praticamente melhores amigas supremas inseparáveis.
A escola não devia ser tão difícil assim pras pessoas, então porque pra mim era o maior dos problemas?
Felizmente a história agora dá uma leve guinada para a luz no fim do túnel e podemos presenciar lésbicas no topo, amém! Depois de me livrar de todo esse ciclo social de bosta a minha vida foi pra frente, pra trás, pra dentro do buraco - quase no inferno, e depois pra frente novamente. Eu continuava muito sem entender qual era a pira com beijar na boca, ficava morta de vergonha com essa ideia, meu deus, imagina só ser vista beijando um menino em público... Por que alguém ia querer beijar? Porque beijar é bom. Simples assim. E sabe como eu descobri isso? Sozinha, com 15 anos, numa escola nova e disposta a compreender minha sexualidade.
Achou que a história tinha acabado né? Pffff, claro que não! Senta aí que agora a coisa começa a ficar boa de verdade.
Aos meus 14 anos eu me apaixonei por uma menina pela primeira vez, foi terrível, completamente traumático, mas isso não me impediu de me apaixonar novamente. Coraçãozinho persistente da pequena grande Sarah em ação. Quando me vi apaixonada por Meg (vamos chamá-la assim) e tinha ideia do que era estar apaixonada, vi minha vida com cor de novo e tudo parecia melhorar.
A gente batia papo no zap, se via na escola, ficávamos de papo até o transporte dela chegar e essa era minha rotina, bem feliz e tranquila. Tínhamos coisas em comum que facilitavam a convivência além do fato dela ser bi e isso ajudar até que bastante na minha situação, novamente eu ainda não sabia que era lésbica, me considerava bi por "já ter sentido atração por meninos", e por um momento achei que pudesse funcionar nosso lance na escola. Dessa vez não me importava em ser vista perto de alguém, ser vista de mãos dadas com alguém, eu estava feliz e queria que as pessoas ficassem felizes por mim. Apesar de toda felicidade, o ano de 2016, também teve várias situações escolares chatas. Com colegas idiotas e com um professor mala.
É muito importante contar lá encima toda a minha relação com ex amigas e seus respectivos casos porque isso me afetou de forma direta e diz muito sobre mim e minha sexualidade hoje em dia, não dava pra deixar passar batido.
11/09/2001, meu aniversário, o dia mais importante do ano. o dia em que eu poderia tudo. Nesse ano eu tinha decidido entrar no teatro e todas as terças e quintas ficaram até mais tarde na escola, com várias pessoas, e o professor mala. Como Meg ficou até mais tarde todo dia pra esperar o transporte e eu fiquei interessado até mais tarde também, tive a maior sacada, meu presente de aniversário. Faltando alguns dias pro 11/09 eu disse a Meg no zap que queria um presente vindo dela, e seria um beijo, o meu PRIMEIRO beijo. Dá para acreditar? Eu pedi por um beijo e o mais legal é que ela TOPOU ficar comigo. Pera... EU IA BEIJAR ALGUÉM! Meu deus! Como que beija na boca?
Como que beija na boca... Como que beija na boca? As pessoas só beijam mas ninguém te explica como. Felizmente temos o google que nos leva ao wikihow que nos ensina em alguns poucos passos como beijar na boca. É... Que foi? Eu li vários tutoriais do wikihow e vi vídeos no youtube sobre beijo sério (de língua) pra ficar craque quando chegasse a minha vez. Me humilhei nas pesquisas mas nunca treinando numa laranja. Tudo tem limites.
Chegou o fatídico dia, quinta feira, a escola esvaziando e a gente indo juntas pro banheiro, olhando o tempo todo pra garantir que não tinha nenhum aluno ou inspetor perto pra nos dizer o que fazer, quando parar, ou aplicar sermão, era só duas garotas de 14 e 15 anos indo beijar. Olha, não me gabando, mas aquela menina era muito bonita, tinha uma voz super aveludada de ouvir e os olhos azuis mais bonitos que eu já tinha visto. Ela parecia ser super gentil, e de fato acho que era, percebeu meu nervosismo e falta de experiência, perguntou se eu estava nervosa e disse que tudo estava bem, que era só eu me acalmar, disse que era só um beijo e que eu podia copiar tudo que ela fizesse em mim. E foi ali... Num banheiro de escola... Com um halls na boca, que eu dei meu primeiro beijo. Botei minhas mãos em sua cintura e fechei os olhos pra apreciar o hálito doce de bala que ia vir até mim, lembro de ser um beijo rápido, sem muita firula, a gente não podia demorar, mas deu tempo suficiente da bala sair da boca dela, vir pra mim, sentir cada partezinha daqueles lábios macios e sentir o porque das pessoas acharem tão bom.
Afinal... Beijar não era ruim, segundo a biologia o beijo faz mágica no corpo humano, o ruim era imaginar que a única possibilidade era beijar um garoto e descobrir que meu corpo estava quebrado, incapaz de sentir mágica. ⚢
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