segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

E se eu falasse de sexo, isso seria um problema?

Quarta feira 12/02. estava saindo da terapia quando peguei meu telefone para ouvir música no caminho de volta e me deparo com um leve alvoroço na internet a respeito da atriz italiana de Greys Anatomy e Station19, Stefania Spampinato, se tratando de sua aparição no podcast 'Call It What It Is' de Jessica Capshaw e Camila Luddington com um episódio cheio de "tudo sobre sexo". O motivo das pessoas estarem malucas na internet foi porque Stefania disse sentir atração romântica/sexual por ambos os gêneros, e convenhamos, imagine escutar algo assim vindo da sua atriz favorita. 

Ouvir aquele episódio do podcast sabendo que tinham 3 mulheres comentando de forma natural sobre esse assunto, dando dicas e compartilhando experiências foi algo realmente interessante. 

Por um tempinho considerei não trazer nada com a temática sexual por aqui porque achei não ser importante, mas, ao mesmo tempo me sinto mal por imaginar o sexo como um grande tabu. Me deixa confusa pensar que se você transa no intuito de ter filhos isso é muito bom porque uma benção está vindo porém se você transar pelo prazer da coisa acaba sendo considerado errado por algum motivo e como uma mulher abertamente lésbica, não pude deixar de escrever sobre mesmo que seja apenas pra guardar como algo nunca postado. 

Tenho 23 anos e nunca passei dos beijos quando se trata de estar com mulheres, nem mesmo quando namorei, acho que mal beijávamos pois minha namorada da época não curtia beijar de língua. Não saio muito em encontros ou flerto com frequência, apenas acontece d'eu me apaixonar por pessoas e me desapaixonar porque geralmente não era pra ser. Mas então, se não tenho uma vida amorosa ativa, por que falar sobre sexo? Justamente porque tive algumas experiências com homens antes de me assumir e acho importante contar isso pra desmistificar um pouco as coisas e diminuir esse tabu absurdo sobre transar. Não entra na minha cabeça como para os homens é muito positivo histórias de transas, como eles tem muita naturalidade. São incentivados a falar tanto sobre o que fazem, com quem fazem, até com quantas pessoas fizeram num mesmo dia enquanto mulheres não podem nem falar sobre auto descobertas que fazem a respeito do próprio corpo porque automaticamente querem "chamar atenção do público masculino" ou são chamadas de nomes pelo simples fato de serem confiantes sobre suas vidas sexuais.

Antes de ter minha primeira experiência íntima eu pensava ser assexual porque tinha problemas em me enxergar com alguém nesse sentido, especialmente homens, e porque eu não tinha conhecimento suficiente pra saber que assexualidade não é sobre sexo. Tinham também problemas de autoestima que me afetavam ao me fazer acreditar numa falta de sensualidade vinda de mim, e que provavelmente para eu poder experimentar como os outros eu teria que ceder a alguma "provocação" vinda de algum homem. Foi com esse pensamento que passei meu penúltimo ano do ensino médio flertando com um amigo, mais ou menos uns 6 meses, deixando ele fazer o que quisesse comigo menos me beijar porque na minha cabeça beijo seria muito mais sério que pegação, e nossa rotina era essa. Ir pra escola, interagir com nosso grupo de amigos, dar umas escapadinhas no intervalo pra ficar escondidos no porão cheio de entulho da escola, e depois, na hora de ir embora ficar mais tempo com ele, todos os dias quase eram assim até isso passar a ser bom e me deixar sempre vários dias triste por sentir que no fundo eu estava machucando alguém. Ficamos nesse ciclo de pegação → culpa → dizer que não aconteceria novamente e aí começar tudo de novo.

Quando começamos a ficar eu não imaginava como ia me afetar psicologicamente, começou como uma conversa besta meio cheia de piadinhas, estávamos falando de uma colega de sala que era muito bonita e meu amigo gostava dela porém não achava ter muitas chances então eu disse que também ficaria com ela caso rolasse um clima e a partir disso passamos a falar sobre o que gostaríamos de fazer e o papo foi escalonando pra ele me perguntando, de forma bem direta, e eu respondendo da mesma forma pois tínhamos muita intimidade e nesse ponto eu não ficava preocupada. Nós dois compartilhávamos do mesmo princípio de nunca falar dessas conversas e ficadas com outras pessoas para não virarmos alvo de fofocas da turma e para que isso não afetasse nosso rendimento escolar e o trabalho dele como ajudante/faz de tudo na escola, era uma relação séria porque a gente realmente manteve o compromisso de ser algo só nosso, isso até as coisas mudarem entre nós. 

A atração que ele tinha pela nossa colega foi passando com o tempo e agora ele depositava tudo sobre mim, me dizia coisas que eu queria escutar e do jeito que eu queria escutar. Eu mostrava tudo que me deixava excitada e na sequência ele dava um jeito de procurar como fazer e vinha todo sorridente pra cima de mim dizendo que também gostava daquelas coisas, a gente realmente flertava de forma descarada e esse não era o problema, gosto de flertar, gostava de flertar com ele porque me deixava entretida e não machucava (pelo menos não ME machucava). É importante eu mencionar que quando os sentimentos passaram a ser todos sobre mim ele me disse exatamente como se sentia e eu, em pé de igualdade, disse exatamente como estava me sentido e como nós só seriamos AMIGOS. Esse menino não foi o primeiro a sentir atração por mim, e tudo bem, mas foi o primeiro a me culpabilizar por ser bissexual (na época eu dizia que era bi) e por supostamente enganar ele como se meu lance fosse brincar com os sentimentos dele. 

Durante esses anos todos de escola, do 8º até o 3ºão, desenvolvi um vício muito grande em pornografia.

Essa é a primeira vez que toco nesse assunto de forma tão aberta, tão sincera e honesta, sem rodeios ou analogias pra esconder os fatos. Meus problemas com sexualidade e autoestima me levaram a consumir doses cavalares de pornografia, diversos conteúdos de meninas que estavam sofrendo na mão de uma indústria terrível a fim de agradar os homens, do mesmo jeito que eu estava fazendo, porque foi assim que aprendi como as coisas deviam ser. O que seria eu senão um corpo disponível para que outros pudessem usar? Esse era o tipo de pensamento que tomava minha mente me fazendo absorver os traços e trejeitos das meninas dos filmes adultos.

Os meninos não tinham medo de contar aos outros sobre a forma como "pagavam tributos" as mulheres e eu cogitava a possibilidade de me tornar uma delas a fim de ser aceita, desejada, de ser alguém muito diferente de mim mesma. Enquanto minha cabeça devia focar nos estudos para um possível futuro bom, minha preocupação era em como ninguém nunca iria pensar em mim como mulher e sim como menina, e isso era meu maior medo. 

Depois de formada na escola e com 18 anos completos eu comecei a ter mais liberdade pra sair e fazer minhas coisas então, ainda com a cabeça lotada de vislumbres dos filmes adultos, e comentários pretenciosos, eu saia de casa pra ficar com homens duvidosos só pra poder ser considerada mulher de verdade. Nas primeiras vezes eu ficava com os caras, rolava um sexo, mas eu nunca saia feliz ou satisfeita e tudo bem porque nem sempre as coisas são perfeitas. Uma hora ia ser gostoso, todo mundo diz ser tão bom, comigo também vai ser. Spoiler... Não foi. 

Eu saía triste depois do sexo, com um sentimento de sujeira muito forte em mim a ponto de chegar em casa desesperada por um banho pra tentar tirar qualquer resquício da outra pessoa de mim, e fingia que nada disso importava ou machucava até doer na pele. Literalmente. Até chegar um dia onde, depois de muito flertar pela internet com um garoto, nós marcamos um encontro e eu apanhei. 

Preciso confessar que nunca fui muito o tipo de menina "certinha" que gosta do sexo baunilha, sempre me interessei pelo diferente e queria em algum ponto poder experimentar algo assim. 

Estou com um garoto, ele me diz coisas, tento me sentir excitada ou ao menos lisonjeada com os comentários e quando menos espero acabo recebendo um tapa no rosto. Paro em completo choque. Ele me chama de nomes e depois desfere mais um tapa enquanto continua falando comigo, falando comigo, especialmente comigo, somente comigo, e a cada palavra que saía da boca dele as lágrimas eram mais fortes e tal qual meu choro. 

Eu chorava encolhida na cama enquanto o escutava dizer que achava fofo esse meu jeito assustado antes de encostar novamente em mim, chorava sentindo a presença dele ali, e depois chorava encolhida no chão debaixo de uma mesa enquanto o ouvia pedir desculpas. 

Como eu fui de beijar uma menina no banheiro da escola e me sentir flutuando nas nuvens pra estar com medo de ser tocada por um garoto? Como isso aconteceu? Porque eu deixei isso acontecer? Porque o sexo não pode ser um assunto leve e sem tabus? 

Para minha sorte, felicidade, ou seja lá o que for, essas experiências todas já passaram e desde então eu nunca mais me deixei sofrer assim. E aí... Volto lá para o começo do texto, onde digo estar ouvindo atrizes falando sobre sexo num podcast disponível para muitas pessoas e sorrio enquanto escrevo exatamente sobre a mesma coisa no meu blog singelo. Olho pra trás e enxergo que a caminhada foi difícil, mas que hoje em dia as coisas são muito diferentes. 

Mas, não me entendam mal, não escrevo aqui porque quero que sintam pena ou mal por mim, de uma forma muito maluca sei que essas coisas todas me tornaram mais forte (mesmo eu achando desnecessário sofrer tanto assim só por isso). 

O sexo não é um problema, nunca foi. O problema eram outras mil coisas que mexeram com a minha cabeça, coisas essas que me deixavam a mercê de uma realidade ruim e que não pretendo mais deixar me controlar. 

Ah, e claro, o vício com pornografia foi uma coisa consumida religiosamente, ficou muito fixo no meu subconsciente, e fica até os dias de hoje. Eu não sou 100% livre dessas memórias, mas estou caminhando pra isso, de um jeito mais tranquilo e com mais cuidado para comigo mesma num todo. 

Nem todos os dias são perfeitos, mas é assim que faço, vou vivendo um dia de cada vez pra poder me curar completamente. 


Insight lésbico sobre poesia

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