domingo, 30 de junho de 2024

Sensação de pertencimento

 Como todo mundo sabe, no mês de junho é comemorado o mês do orgulho LGBTQIAPN+, visando salientar o público num geral e tudo que conversa com a comunidade. Muito legal né? Sim, de fato... 

De fato... É... Uhum... Até chegar a temida PARADA LGBT. Um grande, senão o maior, evento na vida de todos os que fazem parte e/ou simpatizam com a comunidade. 

Me conta, quero saber, você já foi na parada LGBT? Como que é aí na sua cidade? 

Hoje eu vou te contar como foi a minha experiência na parada de São Paulo.

Cês devem ter lido no post anterior que eu falei muito sobre igreja né, domingo dia de culto, e se você bem sabe, a parada acontece sempre aos domingos. Todo ano um domingo abençoado é o escolhido para a celebração do amor e resistência, certo? Certo! Domingo, ir a igreja ou ir a parada? Isso é uma opção? Dá pra fazer os dois ao mesmo tempo? Será que tem problema se eu for no culto todo domingo e menos no dia da parada? Será que vão perceber que eu "faltei" a igreja pra ver homossexuais se beijando? Por que eu tô falando assim se eu literalmente sou homossexual? Se eu escolher não ir na parada significa que eu sou um lgbt fake

Calma! Respira! Vamos começar de novo...

Era 2023 e pela primeira vez na minha vida eu me senti a vontade de sair da minha zona de conforto, aproveitar um rolê no centro, desses cheios de gente e que o pretexto é beijar na boca. Pera, não é esse o propósito, deixa eu recomeçar. Era 2023 e pela primeira vez eu decidi ir na parada lgbt sabendo que de fato podia sair e aproveitar, me divertir, experimentar a sensação de pertencimento que vem quando se está com pessoas iguais a você. Eu estava afim de curtir e celebrar com orgulho todas as vezes que o preconceito bateu na minha porta e eu decidi bater de volta com toda minha coragem, chamei uma amiga muito querida (te amo viu?!) pra conversar e acabei combinando de ir com ela e umas colegas dela na parada.

Era 2023 e não tinha como dar errado, porque eu ia fazer um passeio legal com uma amiga que amo, com uma pessoa que ia cuidar de mim, que não ia soltar minha mão por nada. Eu ia me esforçar pra fazer ser um dia gostoso, com o melhor sol possível, e o melhor humor que minhas emoções podiam prover. Só seria melhor se eu soubesse cantar as músicas que estavam tocando lá ou se eu soubesse quem ia estar lá e o que ia ter, mas vocês não podem me questionar por não saber qual o roteiro do evento, afinal, era minha primeira vez. 

Segundo o Google "pertencimento é aquela percepção de alguém fazer parte de uma comunidade, de uma família, de um grupo, de uma nação". Segundo eu, depois de viver esse dia, digo que a minha sensação lá foi completamente oposta. Não tinha como dar errado, mas deu, e... Por que? Por que comigo? Sempre muitas perguntas sem resposta mas dessa vez, pra felicidade de vocês, tenho como responder exatamente porque me senti tão distante.

 Porque preferi tentar me encaixar na sensação de pertencimento dos outros e não criar a minha. 

Talvez, só talvez, eu seja meio para raio de pessoas idiotas e essas que mencionarei são apenas mais infelicidades ambulantes que cruzaram meu caminho. Estou escrevendo assim porque não to afim de sair xingando logo de cara senão perde a graça. 

Lembram que eu disse que ia sair com uma colegas da minha amiga nesse dia? Pois bem, as três [insira aqui um trio famoso] foram as PIORES e mais INSUPORTAVEIS companhias que uma pessoa poderia ter. Misericórdia. Todas nós 5 éramos um grupo de lésbicas na parada, só conhecia minha amiga e até o fim do dia foi assim porque as outras meninas nem se deram ao trabalho de tentar parecerem legais, já começa por aí, é muito chato quando você tá dando passeio com outras pessoas e elas tão vivendo no próprio mundo delas.

Como eram 3, vou usar a técnica dos apelidos de novo. Sam, Alex e Clover, é assim que vamos chamar. 

Na época eu tinha 21 anos, saia pouco de casa não estava habituada a esse tipo de rolê porque confesso não ser a maior fã de multidões, barulhos, grandes situações cheias de gente (tirando os shows que gosto de ir). Estava me esforçando pra ficar confortável, sabe, pertencimento né? Uma hora tem que bater essa sensação. Tipo.... Uma hora tem que realmente bater essa sensação, mas, meio que não tá acontecendo nada. 1 minuto, 5 minutos, 10 minutos, 1 hora, 3 horas e nada. Metade do dia e nada. NADA! NADINHA! ABSULUTAMENTE NADA!. 

O sol estava muito forte, o barulho era muito forte, e a falta de paciência de Sam, Clover e Alex também era muito forte. Sam era a mais legalzinha das 3, ela até parecia querer conversa, já as outras duas, um casal, não estavam com o espirito mais camarada no dia. Somos da mesma sigla, devemos ajudar uma a outra quanto mulheres, ficar juntas e cuidar umas das outras já que estávamos se expondo na rua. Tipo, sororidade feminina, irmandade, sisterhood, chame como quiser. Fui ensinada a ser legal com todo mundo e achei que ia ser igual.

Por que a sensação de pertencimento estava falhando comigo? Justamente comigo. 

Aquele dia foi muito frustrante, voltei pra casa com os olhos cheios de lágrimas grossas, chorando sem parar como se tivesse levado um soco na boca do estômago. Eu quis ser gentil e em troca recebi meninas que se esforçaram pra tornar meu dia um pesadelo, passando por cima dos meus limites, ignorando minha voz quando disse NÃO, me forçando a fazer o que elas queriam mesmo demonstrando verbalmente diversas vezes como aquilo estava me deixando desconfortável. 

Nossa... Quanta coisa... Tenso né? Foi sim. Confesso. Mas mesmo com esse texto enorme, cheio de palavras confusas, pessoas, situações, isso não significa que pra todo mundo vai ser assim. A sensação de pertencimento é muito maior do que ir ou não ir na parada LGBT da sua cidade. Ela tem que estar presente dentro de você todos os dias, quando sua família te acolhe, quando seus amigos mostram te amar, quando aquela garota especial te dá um beijo ou quando você vê nas mídias pessoas com histórias parecidas. Pertencer pode ser um conceito popular, mas é uma sensação única e somente nós mesmos que podemos descrever como é isso. Ninguém será mais ou menos alguma coisa por ter feito ou não tal coisa. 

É muito legal poder vir aqui e escrever todas essas coisas, sentir que estou criando um espaço seguro e uma rede de apoio, mas também me deixa pensativa sobre quantas pessoas não podem fazer o mesmo e por isso devem se sentir menos pertencentes. NUNCA, nunca mesmo, deixe alguém ditar como você deve se sentir diante das situações, até porque, sabemos que não é fácil sair do armário e muitas vezes acaba sendo mais confortável/conveniente ficar em segredo por mais tempo.

Acima de tudo, não tenha pressa, e não ponha sua vida em risco quando se trata de amor. Você não está sozinho, mesmo que demore, que doa, que seja chato, pois na hora certa - ou quase, vai valer a pena. A sua vida sempre vai valer mais do que qualquer pressão vinda por parte da sociedade, sempre vai valer mais criar a sua própria definição de pertencimento do que tentar se encaixar na dos outros, especialmente porque ninguém pode jamais te definir. 


domingo, 23 de junho de 2024

O mundo não foi feito pra mim (e a culpa é minha por isso)

 Domingo, 23 de junho de 2024. Dia de ir a igreja. 

Desde que me entendo por gente convivo com o meio cristão/crente, por ter nascido em berço religioso, ser batizada, e congregar na mesma igreja há anos. Todos me viram crescer e continuam acompanhando minha trajetória como ser humano, todos esperam que eu seja a típica jovem "do senhor", fiel, devota, exemplo para os outros jovens por aí. 

Até aqui tudo certo, né? É... Não exatamente... Mas deixa eu explicar. Gosto de fidelidade, de devoção, monogamia, chame como quiser, mas isso passou a ser um problema pessoal quando me dei conta de que o mundo não foi feito pra mim e tudo isso pelo fato de eu ser lésbica. Podia até acabar de escrever aqui, tipo, já contei tudo, mas o assunto é mais tenso que isso. 

Para os leigos, batismo nas águas é uma coisa bastante importante pra quem é cristão, tal qual crisma aos católicos, é como se fosse o rito de passagem intelectual quando você passa a compreender as escrituras (bíblia) de um jeito mais sério e entende que agora você como pessoa está se entregando de corpo e alma para Jesus. É um evento importante na igreja e seus irmãos em cristo esperam ansiosos pelo dia do seu batismo pra te apoiarem com cartazes ou palavras legais, então quando se cresce num ambiente cheio de jovens a pressão acaba sendo grande. Líderes e amigos esperam poder ver tanto seu crescimento espiritual e pessoal, tipo te ver casar/formar família, esse tipo de coisa. Na minha igreja era comum o pessoal pedir pro pastor oficializar os casamentos por gostar muito dele e confiar como exemplo de líder religioso.

Mas aí vocês me perguntam, por que 'cê tá contando isso pra gente? Justamente porque hoje durante o culto me veio uma vontade muito grande de compartilhar aqui minha experiência sendo lésbica no meio religioso. É como se eu fosse a Hannah Montana. Loira famosa e morena comum? Não, lésbica feliz e lésbica infeliz pecadora que vai pro inferno. INFERNO. Que palavrinha infernal, literalmente... Aliás, deixar bem claro que esse relato não é uma crítica pra quem é religioso e gosta disso, não posso ser hipócrita, a igreja e meus colegas cristãos já me ajudaram em diversos momentos. É apenas um relato, sim, só isso, não é um pedido de socorro. 

Tive que dar esse contexto absurdo pra dizer que crescer ouvindo sobre os conceitos de céu e inferno acabam com sua cabeça, te desgraçam demais, porque até se você respirar errado pode ser que vá pro inferno. Os papos são um eterno show de horrores, pressão psicológica pra fazer você se sentir mal consigo mesmo a todo custo, já que ser diferente do jeito "bom" é uma dádiva e ser diferente do jeito "ruim" significa que seus pais falharam na sua criação. Afinal, como pode, a mocinha que era ativa na escola dominical, que sempre participava das apresentações, educada, gentil e feita aos olhos do pai um dia renegar sua essência para se juntar ao pecado da carne? Fornicação homossexual em troca de prazeres dessa geração perdida.

E aí... Nossa... E aí é a parte que me faz embrulhar o estômago, tremer, chorar, pedir perdão e implorar para que um dia Deus deixe eu ir pro céu. Culpa. Pouca culpa. Muita culpa. A culpa é minha. A culpa é da minha mãe. A culpa é do meu pai. A culpa é minha. EU SOU A CULPADA. Não existem culpados nessa equação. A culpa é claramente minha. A culpa sempre vai ser minha.

A culpa é claramente minha por estar trabalhando em terapia os conceitos de "se permita sentir atração" e "não se julgue tanto" quando isso me faz sentir vontade e olhar mulheres bonitas de famílias margarina com seus maridos amorosos e filhos abençoados e desejar um dia ser eu. A culpa é claramente minha por sentir atração (forçada) pelo filho adulto do pastor com apenas 12 anos na espera de que ele me de atenção porque assim meu único pecado seria "amar" um homem mais velho. A culpa é claramente minha por nascer assim e saber que eu vou morrer assim. 

De boca aberta ou fechada a culpa vai ser sempre minha porque o mundo não foi feito pra mim.     
Ele não foi feito pra uma mulher lésbica que sonha em casar, constituir família, educar filhos com amor e ensinar a respeitar a todos. 

A vida é uma rotatória, sou o centro, e em cada ponta tem: as pessoas querendo me condenar/me curar, Deus dizendo que me ama, e eu querendo arrancar meus cabelos porque isso deve doer menos que viver convivendo com a ideia de amar mulheres e me permitir perceber como as mulheres da minha igreja são lindas e mais lindas ainda demonstrando todo amor e carinho que sentem com seus filhos/maridos. 

Se amar é lindo, mas amar mulheres é pecado, então já nasci pecadora, e aí te pergunto. A culpa é minha ou de Deus por ter me feito assim? 

domingo, 16 de junho de 2024

Beijar é mesmo tão bom quanto dizem?

 Na postagem anterior eu tinha dito pra vocês sobre as nuances de perceber os primeiros sinais do namoro na adolescência, e de como era comum pra mim escolher todos os meninos a dedo, mas hoje o papo é sobre beijar na boca... É. O tão famoso "primeiro beijo". Já adianto que Kent vai aparecer com frequência por aqui também.

Na época eu achava que minhas amigas me consideravam o mesmo tanto que eu as considerava, por isso, achava importante estar presente nesses acontecimentos femininos da vida delas pra criar memórias, tipo, somos amigas e é isso que amigas fazem. Né? É... Não... Pelo menos não comigo. Kent estava namorando um garoto muito pela saco e isso fazia ela ser muito pela saco igual, já não queria mais andar comigo, e acabava sendo grossa quando estávamos juntas porque aparentemente um pivete aleatória era mais importante que nossa amizade. Aquilo estava me deixando super chateada porque estar sendo deixada de lado por outra pessoa já parecia ruim, agora imagine ser trocada por UM MENINO, isso era o fim do mundo. Num dia aleatório ela me diz que ficou sozinha com esse bofinho e que eles deram um beijo. Meu queixo cai, Minha primeira reação foi perguntar porque ela tinha deixado isso acontecer, aliás, teve um "ECA" e depois "por que você deixou isso acontecer", importante contar de forma correta. 

Fazer um pequeno parênteses aqui, esse menino era de fato muito babaca porque no ano seguinte, quando eu estava na 7º série ele só sabia me destratar de forma verbal e física. 

Eu nunca quis saber se ela tinha achado bom ou se de fato era bom, não fui atrás de outras pessoas pra perguntar, e nem tive essa dúvida exposta pra minha mãe. Essa memória morreu comigo tal qual nossa amizade. Não fazia mais sentido eu engajar uma relação que já demonstrava não me querer por perto fazia tempo, e aí, bola pra frente, não podia ser tão ruim perder uma amiga se ainda tinha a outra. Eu só não sabia que elas eram uma dupla muito forte e eu um parasita. Então provavelmente doeu muito mais em mim do que nelas.

Só pra dar contexto: Clark, Kent e Eu, estudamos juntas desde o maternal até o 6º ano. Erámos praticamente melhores amigas supremas inseparáveis. 

A escola não devia ser tão difícil assim pras pessoas, então porque pra mim era o maior dos problemas? 

Felizmente a história agora dá uma leve guinada para a luz no fim do túnel e podemos presenciar lésbicas no topo, amém! Depois de me livrar de todo esse ciclo social de bosta a minha vida foi pra frente, pra trás, pra dentro do buraco - quase no inferno, e depois pra frente novamente. Eu continuava muito sem entender qual era a pira com beijar na boca, ficava morta de vergonha com essa ideia, meu deus, imagina só ser vista beijando um menino em público... Por que alguém ia querer beijar? Porque beijar é bom. Simples assim. E sabe como eu descobri isso? Sozinha, com 15 anos, numa escola nova e disposta a compreender minha sexualidade.

Achou que a história tinha acabado né? Pffff, claro que não! Senta aí que agora a coisa começa a ficar boa de verdade. 

Aos meus 14 anos eu me apaixonei por uma menina pela primeira vez, foi terrível, completamente traumático, mas isso não me impediu de me apaixonar novamente. Coraçãozinho persistente da pequena grande Sarah em ação. Quando me vi apaixonada por Meg (vamos chamá-la assim) e tinha ideia do que era estar apaixonada, vi minha vida com cor de novo e tudo parecia melhorar.

A gente batia papo no zap, se via na escola, ficávamos de papo até o transporte dela chegar e essa era minha rotina, bem feliz e tranquila. Tínhamos coisas em comum que facilitavam a convivência além do fato dela ser bi e isso ajudar até que bastante na minha situação, novamente eu ainda não sabia que era lésbica, me considerava bi por "já ter sentido atração por meninos", e por um momento achei que pudesse funcionar nosso lance na escola. Dessa vez não me importava em ser vista perto de alguém, ser vista de mãos dadas com alguém, eu estava feliz e queria que as pessoas ficassem felizes por mim. Apesar de toda felicidade, o ano de 2016, também teve várias situações escolares chatas. Com colegas idiotas e com um professor mala. 

É muito importante contar lá encima toda a minha relação com ex amigas e seus respectivos casos porque isso me afetou de forma direta e diz muito sobre mim e minha sexualidade hoje em dia, não dava pra deixar passar batido. 

11/09/2001, meu aniversário, o dia mais importante do ano. o dia em que eu poderia tudo. Nesse ano eu tinha decidido entrar no teatro e todas as terças e quintas ficaram até mais tarde na escola, com várias pessoas, e o professor mala. Como Meg ficou até mais tarde todo dia pra esperar o transporte e eu fiquei interessado até mais tarde também, tive a maior sacada, meu presente de aniversário. Faltando alguns dias pro 11/09 eu disse a Meg no zap que queria um presente vindo dela, e seria um beijo, o meu PRIMEIRO beijo. Dá para acreditar? Eu pedi por um beijo e o mais legal é que ela TOPOU ficar comigo. Pera... EU IA BEIJAR ALGUÉM! Meu deus! Como que beija na boca? 

Como que beija na boca... Como que beija na boca? As pessoas só beijam mas ninguém te explica como. Felizmente temos o google que nos leva ao wikihow que nos ensina em alguns poucos passos como beijar na boca. É... Que foi? Eu li vários tutoriais do wikihow e vi vídeos no youtube sobre beijo sério (de língua) pra ficar craque quando chegasse a minha vez. Me humilhei nas pesquisas mas nunca treinando numa laranja. Tudo tem limites. 

Chegou o fatídico dia, quinta feira, a escola esvaziando e a gente indo juntas pro banheiro, olhando o tempo todo pra garantir que não tinha nenhum aluno ou inspetor perto pra nos dizer o que fazer, quando parar, ou aplicar sermão, era só duas garotas de 14 e 15 anos indo beijar. Olha, não me gabando, mas aquela menina era muito bonita, tinha uma voz super aveludada de ouvir e os olhos azuis mais bonitos que eu já tinha visto. Ela parecia ser super gentil, e de fato acho que era, percebeu meu nervosismo e falta de experiência, perguntou se eu estava nervosa e disse que tudo estava bem, que era só eu me acalmar, disse que era só um beijo e que eu podia copiar tudo que ela fizesse em mim. E foi ali... Num banheiro de escola... Com um halls na boca, que eu dei meu primeiro beijo. Botei minhas mãos em sua cintura e fechei os olhos pra apreciar o hálito doce de bala que ia vir até mim, lembro de ser um beijo rápido, sem muita firula, a gente não podia demorar, mas deu tempo suficiente da bala sair da boca dela, vir pra mim, sentir cada partezinha daqueles lábios macios e sentir o porque das pessoas acharem tão bom. 

Afinal... Beijar não era ruim, segundo a biologia o beijo faz mágica no corpo humano, o ruim era imaginar que a única possibilidade era beijar um garoto e descobrir que meu corpo estava quebrado, incapaz de sentir mágica. ⚢

Eu, lésbica?!

Querido leitor, essa é uma história de dúvidas e incertezas, talvez como todas as outras, talvez diferente das demais. 

Tudo começou lá em 2013, quando eu tinha 12 anos, e estava no 6º ano do fundamental I. 

Deve ser nessa idade que as meninas aprendem nas aulas de ciências sobre o corpo humano, puberdade, menstruação e mudanças hormonais, do jeito que a escola vai ensinando ou em "conversas de meninas" com sua mãe quando ela decide te levar pra passear e usar esse tempo pra contar o que é que acontece quando você vira mocinha. É a mesma época em que as garotas costumam comprar seus primeiros sutiãs com bojo, como se fossem pequenas adultas, entrando no mundo famigerado do "ou eu tenho peito ou eu vou encher com papel higiênico" e decidem ser grandes o suficiente para namorar outros garotos da sua sala ou escola.  Pras meninas normais é só dar a mão, dar selinho, escrever bilhetinho, passar o recreio junto e dividir um doce de vez em quando. Simples né? Agora... Pras meninas diferentes... Pera, diferente não, LÉSBICA, vamos usar a palavra certa. Pras meninas lésbicas a coisa toda muda e o que devia ser parte do ciclo da vida acaba se tornando um verdadeiro pesadelo sem fim.

Namorar com 12/13 anos não me pareceu ser a coisa correta, mas por que isso me deixou tão cismada? Será que o menino é legal? Será que eu sou legal? Será que se eu mandar um bilhetinho para algum menino ele vai responder de volta? Eram muitos "serás" pra poucas certezas, muita coisa pensando em como os meninos iam se sentir e muito pouco sobre como eu ia me sentir, até porque, naquela época não existia a opção de gostar de meninas... Né? Isso foi o que eu pensei. Não só pensava como vivenciava o tempo todo, afinal, é isso que acontece quando você cresce na igreja (mas isso é papo pra outra hora), e quando suas amigas estão todas de namorinho. 

Gostaria muito de expor nomes mas por respeito a mim, foda-se elas, e as minhas histórias, vamos seguir com nomes fakes.

Na época eu tinha 2 amigos, Clark e Kent , éramos um trio. Clark parecia viver num livro de romances pois desde novinha já estava meio predestinada a ficar com esse menino em específico, todo mundo torcia pelos dois e sabia que mais pra frente ia dar namoro. Já Kent, não era muito o tipo de menina que vivia no estereótipo da menininha afim do coleguinha de escola. Ou vivia sim e eu só não sabia. Enquanto C estava sempre rebatendo discussões de ser durona e brutamontes demais - como a Mônica, também mantinha seu namorico, K passava as manhãs antes das aulas com seu namoradinho e esperava que pessoas chatas como eu não estivessem por perto para atrapalhar qualquer coisa que eles estivessem fazendo.

Ver minhas melhores amigas com garotos, falando sobre garotos, mostrando que garotos, garotos e mais garotos, era algo tão confuso pra mim. Como ele, o moleque que rasga a calça do uniforme no futebol e briga por qualquer besteirinha, pode ser assim tão especial pra segurar sua mão no recreio e na saída? Não faz sentido. A minha cabeça ia dar um nó, porque eu não queria parecer mais adulta, porque eu não queria ser que nem as outras meninas, porque eu ainda não tinha achado o menino certo, porque eu não queria estar apaixonada por nenhum dos meninos . De algum jeito tinha algo a mais na minha vida pra naquele momento não precisar pensar em outras pessoas formando relações comigo além da amizade. 

Eu não queria estar apaixonado por nenhum dos meninos? Como assim? Não era minha culpa que eles fossem muito fedidos, briguentos, esquisitos e brutos, eles só não me chamavam atenção e justificavam não ter nada haver comigo. Não tinha mesmo. Mas você acha que isso me impede de tentar? Pois é... Não impediu. E lá fui eu, fingir estar muito afim do Joca , pra ver se uma hora ia virar verdade. O "triste" é que esse Joca era um menino muito da bagunça e ele não estava nem aí pra vida, pouco importava pra ele se a escola estava chamando, se o mundo estava pegando fogo, ele só queria saber de brincar, brincar de atazanar, azucrinar, polemizar, fazer de tudo. BINGO! Ele é PERFEITO! Super dá pra fingir estar muito afim dele e quando a direção escolar o expulsar por dar muita dor de cabeça eu fico tristonha e decido terminar porque namorar um menino de outra escola é difícil, depois o outro alvo da vez era o Juca , namorado de Clark . Super dá pra falar que sou afim dele e depois ficar tristonha pois meus sentimentos nunca seriam correspondidos porque ele já namora, e depois o próximo alvo foi o Jeca , um amigo do meu primo na época. 

Dá pra notar? Todos eles eram meninos escolhidos a dedo porque tinham exatamente algum tipo de empecilho em demonstrar afeto por eles e assim minha vida seria mais fácil, eu participava da heteronormatividade com minhas amigas, e não precisava sofrer com o peso real de estar namorando um garoto na escola onde teria de vê-lo todos os dias. Isso tudo pra evitar a realidade, que eu era lésbica e só não sabia ainda . ⚢

sábado, 15 de junho de 2024

Introdução

 Oi gente, sejam muito bem vindos ao meu blog! 

Eu chamo Sarah Reis, tenho 22 anos e sinto a necessidade de criar esse blog para ser um espaço seguro na internet onde outras meninas e mulheres lésbicas possam se ajudar, se identificar, e ter como referência que existem sim mulheres que amam mulheres em todos os lugares. 

Ser lésbica, de fato, não é lá muito fácil, porém nem tudo está perdido e espero poder contar aqui relatos, histórias, questionamentos, coisas que vocês querem ler, mas não sabem onde encontrar. 

Espero poder ser sua amiga, irmã mais velha/nova, colega, parceira, sua referência lésbica quando você não tiver com quem contar... 

Vou deixar aqui minhas mídias sociais caso vocês queiram bater um papo ou só trocar figurinha comigo. 

Instagram: dino_ssarah
Twitter: Myselfobic


Insight lésbico sobre poesia

  É domingo, 29/06/2025 e fazem alguns meses que eu só não postei nada porque estava ocupada vivendo fora das telas por um tempo até ter mai...