Como todo mundo sabe, no mês de junho é comemorado o mês do orgulho LGBTQIAPN+, visando salientar o público num geral e tudo que conversa com a comunidade. Muito legal né? Sim, de fato...
De fato... É... Uhum... Até chegar a temida PARADA LGBT. Um grande, senão o maior, evento na vida de todos os que fazem parte e/ou simpatizam com a comunidade.
Me conta, quero saber, você já foi na parada LGBT? Como que é aí na sua cidade?
Hoje eu vou te contar como foi a minha experiência na parada de São Paulo.
Cês devem ter lido no post anterior que eu falei muito sobre igreja né, domingo dia de culto, e se você bem sabe, a parada acontece sempre aos domingos. Todo ano um domingo abençoado é o escolhido para a celebração do amor e resistência, certo? Certo! Domingo, ir a igreja ou ir a parada? Isso é uma opção? Dá pra fazer os dois ao mesmo tempo? Será que tem problema se eu for no culto todo domingo e menos no dia da parada? Será que vão perceber que eu "faltei" a igreja pra ver homossexuais se beijando? Por que eu tô falando assim se eu literalmente sou homossexual? Se eu escolher não ir na parada significa que eu sou um lgbt fake?
Calma! Respira! Vamos começar de novo...
Era 2023 e pela primeira vez na minha vida eu me senti a vontade de sair da minha zona de conforto, aproveitar um rolê no centro, desses cheios de gente e que o pretexto é beijar na boca. Pera, não é esse o propósito, deixa eu recomeçar. Era 2023 e pela primeira vez eu decidi ir na parada lgbt sabendo que de fato podia sair e aproveitar, me divertir, experimentar a sensação de pertencimento que vem quando se está com pessoas iguais a você. Eu estava afim de curtir e celebrar com orgulho todas as vezes que o preconceito bateu na minha porta e eu decidi bater de volta com toda minha coragem, chamei uma amiga muito querida (te amo viu?!) pra conversar e acabei combinando de ir com ela e umas colegas dela na parada.
Era 2023 e não tinha como dar errado, porque eu ia fazer um passeio legal com uma amiga que amo, com uma pessoa que ia cuidar de mim, que não ia soltar minha mão por nada. Eu ia me esforçar pra fazer ser um dia gostoso, com o melhor sol possível, e o melhor humor que minhas emoções podiam prover. Só seria melhor se eu soubesse cantar as músicas que estavam tocando lá ou se eu soubesse quem ia estar lá e o que ia ter, mas vocês não podem me questionar por não saber qual o roteiro do evento, afinal, era minha primeira vez.
Segundo o Google "pertencimento é aquela percepção de alguém fazer parte de uma comunidade, de uma família, de um grupo, de uma nação". Segundo eu, depois de viver esse dia, digo que a minha sensação lá foi completamente oposta. Não tinha como dar errado, mas deu, e... Por que? Por que comigo? Sempre muitas perguntas sem resposta mas dessa vez, pra felicidade de vocês, tenho como responder exatamente porque me senti tão distante.
Porque preferi tentar me encaixar na sensação de pertencimento dos outros e não criar a minha.
Talvez, só talvez, eu seja meio para raio de pessoas idiotas e essas que mencionarei são apenas mais infelicidades ambulantes que cruzaram meu caminho. Estou escrevendo assim porque não to afim de sair xingando logo de cara senão perde a graça.
Lembram que eu disse que ia sair com uma colegas da minha amiga nesse dia? Pois bem, as três [insira aqui um trio famoso] foram as PIORES e mais INSUPORTAVEIS companhias que uma pessoa poderia ter. Misericórdia. Todas nós 5 éramos um grupo de lésbicas na parada, só conhecia minha amiga e até o fim do dia foi assim porque as outras meninas nem se deram ao trabalho de tentar parecerem legais, já começa por aí, é muito chato quando você tá dando passeio com outras pessoas e elas tão vivendo no próprio mundo delas.
Como eram 3, vou usar a técnica dos apelidos de novo. Sam, Alex e Clover, é assim que vamos chamar.
Na época eu tinha 21 anos, saia pouco de casa não estava habituada a esse tipo de rolê porque confesso não ser a maior fã de multidões, barulhos, grandes situações cheias de gente (tirando os shows que gosto de ir). Estava me esforçando pra ficar confortável, sabe, pertencimento né? Uma hora tem que bater essa sensação. Tipo.... Uma hora tem que realmente bater essa sensação, mas, meio que não tá acontecendo nada. 1 minuto, 5 minutos, 10 minutos, 1 hora, 3 horas e nada. Metade do dia e nada. NADA! NADINHA! ABSULUTAMENTE NADA!.
O sol estava muito forte, o barulho era muito forte, e a falta de paciência de Sam, Clover e Alex também era muito forte. Sam era a mais legalzinha das 3, ela até parecia querer conversa, já as outras duas, um casal, não estavam com o espirito mais camarada no dia. Somos da mesma sigla, devemos ajudar uma a outra quanto mulheres, ficar juntas e cuidar umas das outras já que estávamos se expondo na rua. Tipo, sororidade feminina, irmandade, sisterhood, chame como quiser. Fui ensinada a ser legal com todo mundo e achei que ia ser igual.
Por que a sensação de pertencimento estava falhando comigo? Justamente comigo.
Aquele dia foi muito frustrante, voltei pra casa com os olhos cheios de lágrimas grossas, chorando sem parar como se tivesse levado um soco na boca do estômago. Eu quis ser gentil e em troca recebi meninas que se esforçaram pra tornar meu dia um pesadelo, passando por cima dos meus limites, ignorando minha voz quando disse NÃO, me forçando a fazer o que elas queriam mesmo demonstrando verbalmente diversas vezes como aquilo estava me deixando desconfortável.
Nossa... Quanta coisa... Tenso né? Foi sim. Confesso. Mas mesmo com esse texto enorme, cheio de palavras confusas, pessoas, situações, isso não significa que pra todo mundo vai ser assim. A sensação de pertencimento é muito maior do que ir ou não ir na parada LGBT da sua cidade. Ela tem que estar presente dentro de você todos os dias, quando sua família te acolhe, quando seus amigos mostram te amar, quando aquela garota especial te dá um beijo ou quando você vê nas mídias pessoas com histórias parecidas. Pertencer pode ser um conceito popular, mas é uma sensação única e somente nós mesmos que podemos descrever como é isso. Ninguém será mais ou menos alguma coisa por ter feito ou não tal coisa.
É muito legal poder vir aqui e escrever todas essas coisas, sentir que estou criando um espaço seguro e uma rede de apoio, mas também me deixa pensativa sobre quantas pessoas não podem fazer o mesmo e por isso devem se sentir menos pertencentes. NUNCA, nunca mesmo, deixe alguém ditar como você deve se sentir diante das situações, até porque, sabemos que não é fácil sair do armário e muitas vezes acaba sendo mais confortável/conveniente ficar em segredo por mais tempo.
Acima de tudo, não tenha pressa, e não ponha sua vida em risco quando se trata de amor. Você não está sozinho, mesmo que demore, que doa, que seja chato, pois na hora certa - ou quase, vai valer a pena. A sua vida sempre vai valer mais do que qualquer pressão vinda por parte da sociedade, sempre vai valer mais criar a sua própria definição de pertencimento do que tentar se encaixar na dos outros, especialmente porque ninguém pode jamais te definir.