domingo, 16 de junho de 2024

Eu, lésbica?!

Querido leitor, essa é uma história de dúvidas e incertezas, talvez como todas as outras, talvez diferente das demais. 

Tudo começou lá em 2013, quando eu tinha 12 anos, e estava no 6º ano do fundamental I. 

Deve ser nessa idade que as meninas aprendem nas aulas de ciências sobre o corpo humano, puberdade, menstruação e mudanças hormonais, do jeito que a escola vai ensinando ou em "conversas de meninas" com sua mãe quando ela decide te levar pra passear e usar esse tempo pra contar o que é que acontece quando você vira mocinha. É a mesma época em que as garotas costumam comprar seus primeiros sutiãs com bojo, como se fossem pequenas adultas, entrando no mundo famigerado do "ou eu tenho peito ou eu vou encher com papel higiênico" e decidem ser grandes o suficiente para namorar outros garotos da sua sala ou escola.  Pras meninas normais é só dar a mão, dar selinho, escrever bilhetinho, passar o recreio junto e dividir um doce de vez em quando. Simples né? Agora... Pras meninas diferentes... Pera, diferente não, LÉSBICA, vamos usar a palavra certa. Pras meninas lésbicas a coisa toda muda e o que devia ser parte do ciclo da vida acaba se tornando um verdadeiro pesadelo sem fim.

Namorar com 12/13 anos não me pareceu ser a coisa correta, mas por que isso me deixou tão cismada? Será que o menino é legal? Será que eu sou legal? Será que se eu mandar um bilhetinho para algum menino ele vai responder de volta? Eram muitos "serás" pra poucas certezas, muita coisa pensando em como os meninos iam se sentir e muito pouco sobre como eu ia me sentir, até porque, naquela época não existia a opção de gostar de meninas... Né? Isso foi o que eu pensei. Não só pensava como vivenciava o tempo todo, afinal, é isso que acontece quando você cresce na igreja (mas isso é papo pra outra hora), e quando suas amigas estão todas de namorinho. 

Gostaria muito de expor nomes mas por respeito a mim, foda-se elas, e as minhas histórias, vamos seguir com nomes fakes.

Na época eu tinha 2 amigos, Clark e Kent , éramos um trio. Clark parecia viver num livro de romances pois desde novinha já estava meio predestinada a ficar com esse menino em específico, todo mundo torcia pelos dois e sabia que mais pra frente ia dar namoro. Já Kent, não era muito o tipo de menina que vivia no estereótipo da menininha afim do coleguinha de escola. Ou vivia sim e eu só não sabia. Enquanto C estava sempre rebatendo discussões de ser durona e brutamontes demais - como a Mônica, também mantinha seu namorico, K passava as manhãs antes das aulas com seu namoradinho e esperava que pessoas chatas como eu não estivessem por perto para atrapalhar qualquer coisa que eles estivessem fazendo.

Ver minhas melhores amigas com garotos, falando sobre garotos, mostrando que garotos, garotos e mais garotos, era algo tão confuso pra mim. Como ele, o moleque que rasga a calça do uniforme no futebol e briga por qualquer besteirinha, pode ser assim tão especial pra segurar sua mão no recreio e na saída? Não faz sentido. A minha cabeça ia dar um nó, porque eu não queria parecer mais adulta, porque eu não queria ser que nem as outras meninas, porque eu ainda não tinha achado o menino certo, porque eu não queria estar apaixonada por nenhum dos meninos . De algum jeito tinha algo a mais na minha vida pra naquele momento não precisar pensar em outras pessoas formando relações comigo além da amizade. 

Eu não queria estar apaixonado por nenhum dos meninos? Como assim? Não era minha culpa que eles fossem muito fedidos, briguentos, esquisitos e brutos, eles só não me chamavam atenção e justificavam não ter nada haver comigo. Não tinha mesmo. Mas você acha que isso me impede de tentar? Pois é... Não impediu. E lá fui eu, fingir estar muito afim do Joca , pra ver se uma hora ia virar verdade. O "triste" é que esse Joca era um menino muito da bagunça e ele não estava nem aí pra vida, pouco importava pra ele se a escola estava chamando, se o mundo estava pegando fogo, ele só queria saber de brincar, brincar de atazanar, azucrinar, polemizar, fazer de tudo. BINGO! Ele é PERFEITO! Super dá pra fingir estar muito afim dele e quando a direção escolar o expulsar por dar muita dor de cabeça eu fico tristonha e decido terminar porque namorar um menino de outra escola é difícil, depois o outro alvo da vez era o Juca , namorado de Clark . Super dá pra falar que sou afim dele e depois ficar tristonha pois meus sentimentos nunca seriam correspondidos porque ele já namora, e depois o próximo alvo foi o Jeca , um amigo do meu primo na época. 

Dá pra notar? Todos eles eram meninos escolhidos a dedo porque tinham exatamente algum tipo de empecilho em demonstrar afeto por eles e assim minha vida seria mais fácil, eu participava da heteronormatividade com minhas amigas, e não precisava sofrer com o peso real de estar namorando um garoto na escola onde teria de vê-lo todos os dias. Isso tudo pra evitar a realidade, que eu era lésbica e só não sabia ainda . ⚢

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